Arquitetos deveriam programar?
Existe um post famoso no Archdaily onde são apontados 5 motivos pelos quais um arquiteto deveria programar. Bem, desde 2009 eu venho testando como utilizar programação na arquitetura e acredito ter ganhado alguma expertise no assunto para poder acrescentar algumas palavra a discussão:
1. Vale realmente a pena programar o Comando Perfeito?
Toda(o) arquiteta(o), em algum momento da carreira, ao utilizar algum software para projetar, já pensou "bem que poderia ter um comando que fizesse isso". Nós arquitetos temos quase que uma obsessão por controle, achando que devemos (e podemos) fazer de tudo.
Não vou negar que programar "aquela ferramenta" pode dar um bom adianto no trabalho, mas… o outro da história, que não ouvimos com frequência, está o esforço necessário para criar o tal "comando perfeito". Pode ser que você seja um renascentista dos tempos modernos, arquiteta(o), pintor,(a) escultor(a), matemática(o) e programador(a), mas no geral as pessoas se limitam apenas à um foco de interesse, e isso é necessário para se tornar realmente bom em algo.
No caso da arquitetura, fomos ensinados sobretudo a resolver problemas espaciais de maneira criativa. Ao longo de nossa formação, exercitamos constantemente o lado criativo do ser ao estudarmos sobre arte e história, desenhar, esculpir, etc. No entanto, programar exige outras qualidades e mesmo que a imaginação também seja necessária, ela se manifesta de madeira muito diferente. Assim como levamos anos para acumular e refinar uma série de habilidades que fazem de nós arquitetos, um programador também dedicou sua vida profissional à aguçar o raciocínio lógico, estudo de algorítimos clássicos, estrutura de dados e diversas linguagens de programação.
Seriam necessários anos mais de estudos para talvez virar um arquiteto programador e enfim criar uma ferramenta que faça “aquilo”. Será mesmo necessário? Isso fará de você um arquiteto melhor? Acho mais fácil contratar quem já saiba.
2. Programar realmente permite ser mais preguiçoso
Não há como discordar aqui. Feito o código, imagine que você acabou de contratar um funcionário que trabalha absurdamente mais rápido que qualquer pessoa, não cansa, não reclama, não sente fome nem sede, isso tudo sem receber nada! Um arquiteto programador pode deixar o computador cuidar do trabalho braçal e focar apenas no que interessa: ser criativo e fazer um bom projeto.
3. Programar talvez te permita ser mais criativo
Quantas vezes já não tivemos uma ideia "incrível" mas não sabíamos como representá-la? Os níveis eram muito complexos até de imaginar ou todos os elementos da fachara eram diferentes. Bem, de fato programar permite os arquitetos imaginar coisas mais complexas (o computador é muito bom em lidar com complexidade), no entanto é comum alguém ficar tão fascinado com a programação (desabafo) esquecendo que não necessariamente um bom código faz uma boa arquitetura. A famosa “arquitetura paramétrica”, por exemplo, hoje em dia é muito associada a um estilo em vez de um método. Ou seja, dentro daquela complexidade foi possível identificar uma homogeneidade na produção desse tipo de arquitetura
4. Programar muda a forma de pensar arquitetura
Programar estimula um pensamento algorítmico que certamente podemos levar para a arquitetura e urbanismo. Assim como fazer uma receita de bolo, um algoritmo estabelece comandos ordenados que executam algo: pode ser o sistema de ignição de foguetes, um sistema de fachada complexo ou uma simples torrada com Nutella e banana.
5. Vale a pena experimentar
Assim como você pode acabar adorando programar e criar suas próprias ferramentas, também é muito provável que isso não seja a sua. Ao longo da formação acadêmica de um(a) arquiteto(a), fora a parte teórica ainda é precisa aprender a desenhar, fazer maquetes físicas, maquetes eletrônicas (em diversos softwares como Rhinoceros, Sketchup, Revit, ArchiCad, VRay), fotografar, editar imagens e diagramar. Talvez nossa profissão já nos exija conhecimentos diversos em exagero para termos que nos dedicar a algo mais. Talvez devêssemos focar apenas em aperfeiçoar o nosso projetar.
De qualquer forma, eu incentivo muito que pelo menos todos tentem programar mesmo que para concluir que não é a sua. Muitos colegas meus dizem que está surgindo uma nova profissão dentro da arquitetura: o arquiteto programador. Um pouco parecido com o BIM manager (outra nova profissão), o arquiteto programador serve de suporte e cria ferramentas para as equipes de projeto poderem performar cada vez melhor.